Nosso mundo é dos raros mundos-momentos nos quais a vanguarda artística não é sequer combatida, ao contrário, é vista com a mais conservadora visão de consagração artística. Onde a vanguarda artística é vastamente “compreendida” pelas principais instituições artísticas, que na verdade fazem dessa vanguarda apenas uma diversão de baixa exigência para o observador que assim acha ser também uma personalidade de refinado critério artístico, quando não é mais do que público de uma parte da indústria cultural atual.
Concordo bastante com esse trecho. Quando exigimos que uma formatura, um casamento, um evento qualquer, seja fotografado usando o equipamento X segundo os requisitos Y, na verdade estamos tirando do fotógrafo tudo aquilo que pode tornar gratificante o seu trabalho: a criatividade. O trabalho alienado, o trabalho-meio, é o pior e mais improdutivo dos trabalhos. É aquele que se faz com má vontade, faz-se menos com o tempo que se tem, faz-se de forma repetitiva e acrítica.
Gosto de imagens nítidas, de boken de objetivas claras e caras, de uma fotografia bem exposta, mas gosto de sombras drásticas, de céu estourado, de ruído, de tremidos, de baixa acuidade. A arte não impõe esses limites, ela é algo do indivíduo, algo do qual o mercado não pode se apropriar. O trabalho artístico é consumido mais lentamente e, por isso, não é interessante sob o ponto de vista de mercado, pois não realimenta o desejo de consumo com a frequência que o mercado impõe.
Acho que vem-se fazendo muitas fotografias boas e quem frequenta discussões no Flickr, fóruns de fotografia e até no Facebook, sabe disso. Obviamente, o mercado quer algo mais pasteurizado, padronizado, uma fotografia-commodity, mas cabe a nós não consumir esse tipo de serviço ou publicação se quisermos que algo mude.