A parte do "dom" seria muito relativa a parte artística, na minha visão.
Tecnicamente qualquer um pode aprender sobre esquemas de luz, arquitetura de uma câmera, lentes e tudo mais. Qualquer um pode decorar umas poses e enquadramentos e fazer tudo "muito certinho" como disse o
Clicio, porém talvez não tenha arte nisso.
Pra quem aprecia pintura é mais fácil compreender. Quando um crítico observa uma obra sem assinatura, por mais que ele não conheça essa, ele compreende alguns traços, alguns tons e outros elementos distintos e consegue, na maioria das vezes, dizer o autor. O estranho é que já vi críticos que simplesmente ignoram a explicação. Não encontram uma linha específica ou uma cor, um qualquer outra coisa palpável. Eles apenas sabem que é daquele pintor e ponto. "A arte é dele". Que arte é essa?
Eu sou um que me arrepio quando vejo obras antigas. Uma alegria enorme por ter a oportunidade de apreciar uma pintura de alguém com tamanho talento e nível extremo de detalhes. Me arrepio e dou risadas quando noto alguma coisa diferente e então vem o pensamento: "não acredito! ele fez isso?! que gênio!". Pra mim isso é a arte. Fazer algo tão inesperado que nem esse próprio artista se fosse ensinar alguém a fazer teria ensinado aquele detalhe, por considerar algo comum, algo que qualquer um compreenderia que teria de ser feito, mas que não compreende.
Lembrei de um exemplo básico que se usa nas aulas de Inteligência Artificial das maiores universidades do mundo. Você pode programar um robô (software) para tocar uma sonata inteira em um piano, milimetricamente ajustada (com precisão de milionésimo de segundo) com a versão original tocada por um grande músico, mas não consegue enganar um grande maestro sobre qual é a tocada pelo pianista e qual é a tocada pelo software. Serve para ilustrar, a grosso modo, que é diferente decorar a tabuada e saber operar todos os números.