Luciano,
Me perdoe, cara. Eu não sei muito sobre longas exposições...
Luciano,
Falei com o Zé. Como sempre, um cara pronto pra ensinar a qualquer momento; ele tem uma humildade ímpar nesse mundo; uma pessoa a quem dedico muito respeito.
Ele me falou detalhadamente sobre sua rotina de trabalho e fotos com exposição exageradamente longas (três, quatro... seis horas). Disse que não é nada diferente do que se faz com as "longas normais" e que nós já conhecemos: aquelas de 1s, 10s, 30s, 1 minuto.
O cálculo pra seis horas de exposição é exatamente o mesmo que se faz para uma de um minuto. Simples, né?! Convém lembrar que a compensação é exponencial e, por isso, é bom também lembrar que a maioria das nossas objetivas p/ câmeras 35mm fecham até f/16 ou f/22. Em médio formato é comum ver lentes que fecham até f/32. Já em Grande Formato isso vai até f/45, f/64, ou mais (eu já vi lente com f/128). Não sei se existe, eu não conheço, mas, hipoteticamente, vamos imaginar uma lente pra 35mm que vá até f/64 e o fotômetro acusou o tempo de 30 segundos para f/11. Vamos fechar o obturador?
- f/11: 30 segundos
- f/16: 1 minuto
- f/22: 2 minutos
- f/32: 4 minutos
- f/45: 8 minutos
- f/64: 16 minutos
Mete um filtro laranja nessa lente, dispara o obturador no modo B (com trava no cabo) ou no modo T e você pode ir na padaria da esquina tomar um café. Relaxa, dá tempo!!!!! Tem UMA HORA ou mais pra fazer isso.
O que torna uma exposição
longa ou
loooooonga é o acréscimo das compensações necessárias por elementos que são inseridos, que são implementados, no ato da captura da imagem.
Desse modo, falemos então de alguns deles (claro, ainda existem muitos outros).
FiltroVocê vai fazer uma foto P&B e quer usar um filtro laranja. Varia conforme a marca/modelo do filtro, mas ele rouba (escure) mais ou menos dois f/stop's de luz (o tal dos "dois pontos" de luz que normalmente usamos dizer). Então vamos lá: se uma leitura de fotômetro, inicialmente, for de 60 segundos, acrescentar + 2 f/stop para um filtro laranja, isso já vai para 4 minutos de exposição.
Assim:
- Sem filtro: 1 minuto (ou 60s)
- Filtro amarelo: acrescente 1 f/stop e isso dobra para 2 minutos
- Filtro laranja (do exemplo acima): acrescente 2 f/stop e isso dobra para 4 minutos
Imagine que se queira usar um filtro amarelo + um filtro ND4 (densidade neutra). A compensação é cumulativa, isto é, soma-se a compensação de cada um deles.
ReciprocidadeO teu fotômetro indicou 60 segundos de exposição. Vai fotografar com um Acros ISO 100 ou prefere usar um Fomapan ISO 100? Se for de Acros então "táca" lá na câmera os 60s e manda bala, vai ficar tudo certo. Se for de Foma... peraí um pouco porque vc vai precisar compensar a reciprocidade do filme porque esse filme não conhece esse tempo, a gente precisa dar mais um tempinho pra ele captar a luz equivalente a um minuto.
MacrofotografiaImportante: vamos levar em conta aqui a fotografia em grande formato; seja uma View monotrilho ou seja uma Field, levemos em consideração uma câmera que tenha fole.
Pois bem, tomemos como exemplo o uso de uma câmera GF 4x5 com uma lente 210mm. Com ela vai se fazer uma macro, em estúdio com luz contínua (portanto, luz controlada). Inevitavelmente, nesse caso, a se fazer a macro será necessário estender (esticar) o fole de modo a se obter a magnificação desejada, ou seja, a proporção que se quer, 1:1 (um pra um), por exemplo.
Aqui ocorre outro tipo de compensação: a do fole.
Se é uma lente 210mm e o fole está esticado a 30cm, ou 35cm, a distância do ponto nodal da lente até o plano do filme vai além da distância focal da objetiva usada (por isso é macro) e há aí um fenômeno que envolve a ótica (na verdade, a Física). O que acontece é que parte de luz que atravessa a lente acaba se perdendo dentro do fole, no caminho até o plano do filme. Claro, que isto que estou dizendo é simplificado demais, mas eu não tenho conhecimento técnico pra explicar mais ou melhor que isso. Então é assunto para os especialistas, não para um zé mané como eu.
Assim, há uma regra, uma formulinha pronta, para calcular essa perda da intensidade de luz. Então, "táca" um tempo adicional também para ajustar esse troço aí.
Luz NaturalA situação anterior, a da macrofotografia com camera GF, foi citada considerando a luz (artifical) contínua e controlada de um estúdio.
Imaginemos uma longa exposição com luz natural. Caramba! A luz muda!!!! Basta pensar que uma longa exposição de 5 horas, por exemplo, que comece às 13h00. Às 14h00 é uma coisa mas às 17h50 é completamente diferente. Isso sem falar que se passar uma nuvem na frente do sol... bem, já dá pra imaginar o drama, né?!
Essa situação nos obriga, sem nenhuma dúvida, a ficar monitorando o tempo todo essa luz, com um fotômetro de mão, para que se faça as correções necessárias.
Nesse sentido, o Shalders está ABSOLUTAMENTE CERTO quando ele diz: "...mas a partir de 30 minutos já entra no reino da tentativa e erro.". E nem é preciso explicar porque.
ConviteDepois disso tudo, eu gostaria de deixar aqui um Convite à Reflexão:
- O acessório MAIS IMPORTANTE nesse tipo de fotografia é um bloco de papel e uma caneta.
- O Edward Weston fazia looooongas exposições de até uma semana. Sim, isso mesmo: cinco, seis ou até sete dias. Ele abria o obturador no início da manhã e fechava no final da tarde.
- Fico pensando... Uma foto com exposição de 6 horas da janela da minha casa. Depois de 5½ horas passa na rua um caminhão bem pesado e aquela vibração no solo chega até o tripé que estou usando.
Legal, né?!!!
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