Extraído de uma publicação de fotografia[/i]
Muita água passou por debaixo da ponte desde que este artigo foi escrito, há mais de um ano. Neste período, a evolução da tecnologia foi brutal e os novos lançamentos demonstram que os fabricantes estão, de alguma forma, vencendo a batalha contra o ruído.
A Canon 20D, por exemplo, com 8 megapixels, possui uma qualidade de imagem superior à de sua irmã mais velha, a Canon EOS 10D. Com 2 megapixels a mais, a 20D consegue manter (ou até mesmo melhorar) o nível de ruído apresentado pela 10D. Da mesma forma, a Canon EOS 1D MkII, de 8 megapixels, apresenta imagem com menos ruído do que sua irmã mais velha (bem mais velha), a Canon EOS 1D, de 4 megapixels. Por último, tanto Sony DSC-P150 quanto Canon S70, de 7 megapixels e sensores pequenos, apresentam menos ruído do que suas irmãs mais antigas de 5 megapixels, embora os píxels sejam menores.
Ainda não está claro o motivo desta melhora. Talvez os sensores sejam melhores e captem menos ruído. Talvez os fabricantes tenham conseguido produzir sensores com paredes mais finas entre as fotocélulas, como argumenta a Canon, o que melhoraria sensivelmente a relação sinal/ruído. Ou talvez, por contarem agora com mais resolução, estejam usando programas mais agressivos de redução de ruído sem danificar demasiadamente a imagem.
Qualquer que seja o motivo, o fato é que houve um salto de qualidade visível nas digitais de última geração. Continuam válidos os principios colocados na matéria, abaixo: sensores com pixels menores possuem uma relação sinal ruído pior e a qualidade da imagem tende a se degradar. No entanto, é preciso considerar a geração tecnológica do sensor ao se fazer as comparações e avaliar se entre um modelo e outro houve um salto tecnológico (como entre a Canon S50 e a S70) ou apenas uma compressão de pixels menores no mesmo espaço (como entre a Canon G3 e a G5).
De qualquer forma, o avanço tecnológico é implacável. Dentro de alguns anos estaremos fotografando em ISO 1600 com a mesma qualidade que fazemos hoje em ISO 100. Além disso, ISO 3200 e 6400 passarão a fazer parte de nossa rotina como o ISO 400 faz hoje.
Vivemos em tempos interessantes.
Existe uma corrida acontecendo no mundo da fotografia digital: a corrida dos megapixels. Perigosa, cheia de surpresas para aqueles que se aventuram por suas curvas e longas retas, esta é uma corrida de enganação, uma corrida onde a mentira vale muito, vale mais do que a humildade. Uma corrida que chegou a um ponto em que, para ganhar, o melhor é não participar dela.
O aumento dos megapixels nas máquinas digitais é um processo patrocinado pelo marketing das grandes empresas como Sony, Canon, Fuji e Nikon. 2004 já está sendo chamado do ano dos 8 megapixels, o ano em que as belas máquinas de 4 megapixels, até então consideradas excelentes, serão tachadas de obsoletas.
Esta é uma corrida ruim, uma corrida que coloca no mercado máquinas que fazem fotos piores do que as lançadas há dois anos. Parte da culpa por este fenômeno deve ser imputada à nós, consumidores, que corremos atrás dos pixels como pintos atrás do milho. Não sabemos o que estamos fazendo mas, soterrados por propagandas, acabamos por nos convencer de que 8 megapixels são sempre melhores do que 5 e muito melhores do que 4. Certo? Não. Errado. Erradíssimo.
Antes de afirmar que 8 megapixels são melhores do que 5 temos que analisar outras questões.
Um sensor digital é, na verdade, um conjunto de milhões de fotocélulas que captam luz. Um sensor de 5 megapixels tem 5 milhões de fotocélulas.
Para simplificar nossa vida neste artigo vou me dar a liberdade de exagerar muito e usar algumas dimensões hipotéticas, ok? O intuito é meramente didático.
Vamos supor que nosso sensor digital tenha 5 milhões de centímetros quadrados de área. E que deve abrigar 5 milhões de fotocélulas. É fácil calcular que cada fotocélula deve ter 1 cm2. Correto? Muito bem.
Agora vamos pegar um outro sensor, com as mesmas dimensões do anterior, e colocar nele 8 milhões de fotocélulas. O que acontece? A densidade de células por cm2 aumenta e elas têm que ser menores, caso contrário não caberão dentro do sensor. No nosso caso as fotocélulas deverão ter 5/8=0,625 cm2 para poderem ser arrumadas dentro do nosso sensor de 5 mega cm2.
"E daí?", vc pergunta, "Qual o problema disso? A máquina ficou melhor. Ficou com mais pixels. Eu quero mais megapixels!"
Daí que existe um efeito negativo nisso tudo. Fotocélulas menores captam menos luz e possuem uma relação sinal/ruído pior do que células maiores. Fotocélulas são como baldes na chuva. Quanto maior o balde, mais água capta. Analogamente, quanto maior a fotocélula, mais luz ela armazena e menos ruído gera. Essa regra só vai mudar quando algum laboratório descobrir uma nova forma de fabricar sensores CMOS e CCD. Isso envolve pesquisa de novos materiais, cerâmicas, métodos de fabricação e muitas outras coisas que estão distantes de nós. Alguém, um dia, vai conseguir. Mas, por enquanto, esta é uma regra básica: fotocélulas menores captam menos luz e geram mais ruído.
Há alguns anos, quando as máquinas digitais tinham 1 ou 2 megapixels, elas usavam sensores pequenos. Com 1 megapixel não é necessário usar um sensor muito grande. Conforme as máquinas foram ganhando mais megapixels, sensores maiores passaram a ser empregados, de forma a se conseguir acomodar as fotocélulas sem precisar diminuir demasiadamente seu tamanho.
A tabela a seguir, extraída da revista Outback Photo, mostra com detalhes a evolução. Na coluna da direita encontramos o modelo da máquina e quantos megapixels possui. Na esquerda, o tamanho do sensor.
Repare que os fabricantes faziam a evolução casada do tamanho do sensor com a quantidade de megapixels oferecida pela máquina. Desta forma evitavam que a relação sinal/ruído ficasse muito desfavorável.
Nas SLR o fenômeno é parecido. Repare, na tabela abaixo, que a Canon D30, com um sensor de bom tamanho e poucas fotocélulas (tinha "apenas" 3 megapixels) pode se dar ao luxo de ter fotocélulas enormes (10.1 µm). Não é surpresa, portanto, que a D30 faça imagens maravilhosas, mesmo tendo "apenas" 3 megapixels. Outra que usa células grandes é a EOS 1D. Com 4 megapixels tem um sensor maior do que a EOS D30 e células de 10,8 µm.
As Canon EOS 10D e D60, por outro lado, usam sensores menores do que a EOS 1D e armazenam mais megapixels. Conseqüentemente trabalham com células menores (7,4 µm). Quem tem a melhor relação sinal/ruído? A EOS 1D ou a EOS 10D? A resposta, clara, aponta para a EOS 1D. A diferença é tão grande que, em alguns casos, as imagens da EOS 1D podem ser ampliadas com mais qualidade do que as imagens da EOS 10D, embora esta última gere arquivos maiores.
Falemos agora de dois casos famosos (e recentes) da corrida dos megapixels.
A Canon, com sua Powershot G3, tinha uma máquina de referência. Com 4 megapixels e uma boa objetiva era capaz de enfrentar de igual para igual qualquer concorrente maior de 5 megapixels. Pressionada pelo marketing dos números, a Canon aposentou a G3 e lançou a G5, com 5 megapixels num sensor do mesmo tamanho. Resultado? A Canon G5, mais moderna, gera imagens piores do que a G3. A G5 tem mais resolução, claro, mas o nível de ruído aumentou. A resultante, pelo menos na minha opinião, é negativa.
O caso mais recente é o da Sony 828, de 8 megapixels. Todos se entusiasmaram quando a Sony anunciou o lançamento da 828. Afinal, os modelos anteriores da linha, o F707 e o F717, eram excepcionais. Mas a Sony cometeu um erro grave: aumentou a quantidade de pixels sem mudar as dimensões do sensor. A 717 usa células de 3.4 µm. Na 828 elas são menores, com 2.7 µm. Resultado: o nível de ruído ficou insuportável e compromete demais a qualidade das imagens.
Existem diversos sites na internet que mostram fotos e gráficos com o efeito negativo desta decisão controversa da Sony e comparam as imagens da 828 com a irmã mais velha. O melhor deles está aqui. É fácil perceber que, se antes as imagens da 717 em ISO 800 eram bastante boas em termos de ruído, as criadas pela 828 ficam abaixo da crítica. É simplesmente impossível usar a 828 em ISO 800 sem ter um ataque de nervos.
Alguns sonsos fazem cara de desdém e sugerem uma solução: basta usar um software de redução de ruído que fica tudo certo. Sei, sei. Um software. Hummm. Agora vou ter que comprar um software para consertar o que a 828 deveria ter feito desde o início? Vou gastar mais uns 70 dólares porque a máquina não faz o que se supunha? É isso? Thanks, but no, thanks!
O próximo movimento parece ser levar as SLR de 6 megapixels para 8 megapixels. Já me perguntaram o que eu acho disso. A resposta é: depende. Se aumentarem o tamanho do sensor, pode ser uma boa. Mas se mantiverem-no como está, é bom que descubram uma forma muito boa de lidar com o ruído, caso contrário lançarão um produto novo pior do que o antecessor.