essa parte que vc citou...
acho que a fotografia passa por fases, como os fotógrafos tbm
a tal "estetização da tragédia" é comum na arte e de tempos em tempos sempre causa polemica,
desde Goya, Picasso, Eugene Smith, entre tanto outros,
a critica de Sischy me parece estar ligado a um pensamento( ou algo parecido) ao neo-realismo italiano,
representação objetiva da realidade social como forma de comprometimento político.....
eu prefiro pensar que hoje no mundo há espaço para todos os tipos de estéticas.....
Acredita que foi isso o que mais me intrigou no texto? Inclusive, acho que inconscientemente foi por isso que compartilhei ele aqui.
No último ano me interessei muito por Sebastião Salgado, vi filmes, li livros e textos críticos da internet, e de certa forma quis "descobrir" esse fotógrafo além da superfície. Porque convenhamos, é comum a gente ver umas imagens e ler algumas opiniões e achar que entendemos sobre algum fotógrafo, quando na verdade suas vidas são cheias de nuances como a vida de qualquer outra pessoa. Acho que esse processo lento de entendimento conceitual é essencial para uma digressão mais parcial e menos pessoal.
Voltando... o que me intriga mais é o discurso estético. Qual é o papel do fotógrafo, e qual o valor real do que ele comunica e como ele comunica? Eu acredito que muito da obra do fotógrafo ele no final não tem controle, a leitura do que ele tenta comunicar é quase apenas um esforço em vão.
Estou lendo um livro do Roy Wagner, um antropólogo que trouxe um novo tipo de olhar para a antropologia, o livro se chama "A invenção da cultura". Tem um trecho no começo que sintetiza um ponto que pode se aplicar aos fotógrafos [que de certa forma são antropólogos, talvez?]: "(...) o antropólogo é obrigado a incluir a si mesmo e seu próprio modo de vida em seu objeto de estudo, e investigar a si mesmo."
Eu relaciono esse trecho diretamente ao Sebastião Salgado. Eu acredito no Sebastião Salgado como uma pessoa de contradições, mas que faz tudo com muita honestidade e de coração. As fotos que Sebastião Salgado faz, são Sebastião Salgado, entende?
Aí penso em Gilles Peress, que tem um outro tipo de estética, e [acredito eu, porque conheço Gilles Peress apenas superficialmente] abordagem. Essa estética mais realista como forma de argumento também podem estetizar o sofrimento, não? Realmente não sei, realmente busco essa resposta.
O mais interessante no seu comentário foi o fato que semana passada vi um workshop no CreativeLive do Ron Haviv e Ed Kashi, e eles têm estéticas distintas e abordagem distintas da fotografia. Mesmo assim, ambos fazem seu trabalho com muita responsabilidade, e mais: abriram uma agência de fotografia juntos (a VII).
Não seria muita intransigência desvalorizar um trabalho de uma vida inteira apenas por falta da tentativa de compreensão de uma pessoa que está muito distante da nossa vontade real de compreendê-la?
E aproveitando pra fazer um contraponto com a minha opinião, acho que em qualquer meio é muito difícil separar o artista de suas atitudes. Admiro não só as fotos de Sebastião Salgado, mas sua posição [mesmo sendo contraditórias em alguns pontos].