Bom ponto.
O que eu gostaria de ver então (sendo delirantemente otimista) num próximo governo:
- Legalização de drogas: é preciso admitir que esta é uma guerra perdida, primeiro pro tráfico e depois pras milícias. Pro Estado ganhar essa guerra, só se juntando ao inimigo. Legaliza as drogas, formaliza a produção e cobra imposto. Acaba com a violência e se torna nova fonte de receita pro Estado. Quem vai ser contra: Religiosos (na bancada aberta), milicianos e traficantes (na bancada oculta), policiais.
- Fim das reúncias fiscais pra templos religiosos: Acho que isso nunca nem deveria ter existido, mas o lobby das igrejas é enorme, e tende a aumentar. Pra piorar a situação, muito templos ainda sonegam dívidas trabalhistas, na esperança de que sejam perdoadas em algum momento (e infelizmente serão). Quem vai ser contra: religiosos.
- Fim das renúncias fiscais a grandes empresas: Renúncia fiscal não fez a Ford nem a Canon ficarem no Brasil. E contribuem na direção de aumentar o défict fiscal. Acho "engraçado" o pessoal que se diz de direita, de livre mercado achar que tá tudo bem com benefício fiscal destas empresas. Quem vai ser contra: grandes empresários.
- Imposto sobre grandes fortunas: Tem uma galera que acha que ter um carro melhorzinho e um apartamento três quartos já é ter grande fortuna. Não é isso, estou falando daquelas pessoas que quando querem dizer alguma coisa, compram uma emissora de TV. Que quando vão pegar empréstimo, é na linha juro-baixo do BNDES. Quem vai ser contra: de novo, grandes empresários.
- Investimento sério em educação: A escola pública tem que ser tão boa quanto a privada, e ainda oferecer almoço e instrução na parte da tarde. A criança tem que ficar na escola enquanto os pais trabalham. Temos vários exemplos de pessoas admiradas que vieram da pobreza e da escola pública, mas estamos condenando muitas crianças a uma vida de terceira classe só porque não tiveram bom estudo. Quem é contra: empresários do ramo da educação e políticos populistas, que querem massa de manobra.
- Incentivo financeiro às famílias: Tem que haver, pra poder haver consumo, pra haver empresas. Pro dinheiro circular (é o que gera riqueza), tem que haver um ciclo completo do dinheiro. Note que, sem o fim das reúncias fiscais, isso não adianta nada, pois vai ser transferência do dinheiro do Estado > pessoas pobres > grandes empresas e agremiações religiosas, que vão ficar cada vez maiores e mais ricas. Esse dinheiro precisa voltar pro Estado. Quem vai ser contra: elites verdadeiras e pessoas que se imaginam de elite, mas que não são. Aquele pessoal que acha que doméstica não deveria ir pra Disney. Mas acho também que isso tem que ser atrelado a uma série de requisitos: incentivo por crianças deve ser associado a desempenho escolar, por exemplo.
- Incentivo fiscal ao emprego: Esse é interessante: uma empresa que fatura 1MM tem que pagar tanto imposto quanto outra que fatura o mesmo valor? Não: uma empresa que contrata 100 pessoas deveria pagar menos imposto que uma que contrata 2 pessoas. Essa diferença de imposto deveria ser grande o suficiente pra inibir a automatização de mão de obra onde não seja necessário à segurança humana ou ao meio ambiente.
Acho que pra um primeiro momento já estaria de bom tamanho. Sei que pouco disso vai acontecer, e minha expectativa deveria ser simplesmente da volta à uma relativa sanidade ao país.
Bora lá. Gostei da abordagem.
- Legalização de drogas: na minha opinião não se pode legalizar todas as drogas ou cessar o combate ao tráfico. A legalização de drogas menores já tira parte do financiamento do tráfico. A legalização da maconha, por exemplo, faz com que grande parte do dinheiro arrecadado pelo tráfico seja direcionado para uma receita aos produtores, vendedores e por fim, pro governo em forma de impostos. Pode-se realizar alta taxação dela (maior que do cigarro, por exemplo) e direcionar essa verba ao combate ao tráfico nas fronteiras e aeroportos. E no meu ponto de vista, a principal medida, seria acabar com essa guerra às favelas. Isso não é território pra se guerrear. Não resolve nada e atinge uma população já fragilizada com sua condição social. É sim uma política de extermínio e encarceramento que começou lá em 1550 e se solidificou 1890, um ano após a abolição da escravidão.
- Fim das renúncias fiscais pra templos religiosos e pra grandes empresas: Alguém aí ainda acha que a Igreja não é uma empresa? As renúncias fiscais falharam miseravelmente. E isso seria inevitável pelo próprio modelo de ação capitalista. Quando alguém oferece mais incentivos, as empresas migram. Deixando NADA pra trás. Nada! Tudo quebra em uma cidade depois que sai a indústria. De uma forma bem simples, o Ailton Krenak aborda esse tema, direcionando a discussão às mineradoras, que são um grande adversário dos indígenas. Ele diz que esses caras vem aqui no seu território, roubam as montanhas e as levam pra outros países, levando assim toda a riqueza pra lá. Claro que isso se direciona a nicho específico do mercado. Mas voltando às igrejas.. Qual benefício ela gera pra população ou pro estado? Pro governo (não pro estado - é importante separarmos os dois) ela gera a facilidade de manipulação das pessoas. O que é uma bela garantia de futuro aos políticos. Mas das pessoas, elas tiram parte do já diminuto salário, criam uma expectativa de solução milagrosa dos problemas (o que basicamente faz o sujeito direcionar toda a sua energia a própria igreja) e cria coisas aberrantes como pastores milionários donos de tv. Os caras usam a bíblia pra isso ainda. Cara.. A bíblia! Vou parar aqui.. Por que isso é assunto pra outro tópico.
- Imposto sobre grandes fortunas: Imposto progressivo é urgente. Quem ganha mais, paga mais. E aqui é FUNDAMENTAL não usarmos o termo tirar do rico pra financiar o pobre. Não se trata disso! O modelo americano, por exemplo, ao taxar grandes fortunas e heranças, permite que sejam deduzidos os valores investidos no terceiro setor (ONGs e afins). Os milionários podem usar em vida, uma grana que lhes seria cobrada em sua morte. Foi isso que fez com que caras como Warren Buffett, George Soros e Bill Gates direcionassem parte da sua grana pra causas sociais - vocês achavam que eles faziam por serem extremamente bonzinhos?
Acaba levando eles pra esse caminho. Mas o ponto inicial é a percepção de que essa grana será cobrada de qualquer forma.
- Investimento sério em educação: nunca chegaremos a lugar nenhum se a educação não for igualitária. O sistema educacional DEVE ser uniforme e minimamente adequado. Mas isso é um problema pros governos. Mesmo os governos de extrema esquerda temem um povo com alta capacidade de raciocínio, crítica e principalmente capaz de obter e entender as informações. Nossa sociedade nunca foi tão quantitativamente informada. E ao mesmo tempo temos uma geração praticamente incapaz de interpretar textos simples e entender nuances que lhes permitam classificar as informações como verdadeiras ou falsas, por exemplo... Mas isso é um problema social. Como eu li certa vez: não é preocupante que alguém ainda ache que a terra é plana. Preocupante é nós, seres pensantes, não conseguirmos convencer esse sujeito que está errado.
- Incentivo financeiro às famílias: a pandemia escancarou essa necessidade. Renda mínima não é sustentar vagabundo, como a direita tenta nos fazer acreditar. É dar o mínimo pras pessoas terem o que comer 3x ao dia. Ponto final. Isso é simples de calcular e fácil de fazer. E mais, se REVERTE em consumo. A pandemia mostrou claramente isso! Só não viu quem não quer. "Ah. Mas aí quebra o país!" Tá bom. Dar 600 reais pra sustentar uma família de 5 pessoas quebra o Brasil, auxílio-paletó de 45000 pra um político que já ganha 30000 por mês, não. Dinheiro tem. Falta é alguém que consiga redirecionar pra onde precisa.
- Incentivo fiscal ao emprego: Exato. E ainda avançaria nesse tema. Mais incentivo pra empresas 100% nacionais. Incentivo pra quem investir em qualificação da mdo. Incentivo pra empresas que atuem diretamente em ações sociais (qualquer uma - hoje as leis exigem altíssimos valores pra isso acontecer).
Uma bela discussão política. Mas como toda discussão eu espero ENCARECIDAMENTE o contraponto.
As ideias são normalmente rebatidas com bastante agressividade, mas sem uma análise e uma argumentação bem-feitos.