Gostaria da sua opinião quanto a composição, tratamento, o olhar do fotógrafo. Inclusive algumas delas eu postei no Corredor Polonês.
1- Angustia do pai vendo ele ainda sem um irmão. Quem sabe 2010.
Leandro.
Começando na ordem dos que postaram.
Olhei suas três fotos. Elas são muito diferentes entre si, à primeira vista, mas analisando a sua tendência nelas notamos uma mesma coisa.
O que elas me transmitiram? Basicamente uma atitude do fotógrafo pouco envolvida, distante no dizer do Capa. O que significa isso? Bem, vamos começar de baixo para cima com as flores na piscina. Por que um observador deveria sentir-se atraído por esta foto? O que ela mostra que pode interessar a um observador? O bouquet caiu na água. Esta é a sua mensagem, e só esta. Digamos que aqui poderíamos usar aquela palavra tão difícil... Trata-se de um
registro! É uma Fotografia (com F maiúsculo). Não, é um
registro.
A atitude distante é porque o fotógrafo não fez a fotografia, não se deu à fotografia. Quase se pode dizer que ela foi feita pela cãmera, o mágico aparelho registrador...
O que é um registro? Muita gente vê fotos de cenas e as chamam de registros, mas não necessariamente são registros. Na 1a Clínica vimos fotos do Fábio. São registros? Sim e não. Sem dúvida registram momentos, mas se acompanhar o que conversamos lá, sequer são de fato registros de momentos, só parecem, pois o que vemos na foto é algo da fotografia, não do momento que a originou. Então não são registros, são fotografias. O que vemos nelas é decorrente das opções fotográficas. Se tiver dúvidas, leia o que conversamos lá.
Mas essas suas, todas três, um pouco menos a segunda, exageradamente a terceira, são registros, isto é, o acontecimento é aquilo que está na fotografia,
sem o fotógrafo ter acrescentado a isso uma narrativa modificadora ou interpretativa. O bouquet caiu na água, você voltou a câmera para ele e o clicou. A foto mostra o bouquet na água. Se eu não visse a foto mas alguém me disesse "Olha, Ivan, o bouquet caiu na piscina!",
eu saberia a mesma coisa sem precisar da fotografia.Então, no meu modo de ver, nas suas fotos estão sendo perdidas as oportunidades úicas da fotografia, isto é, um leque de escolhas fotográficas que mostram aquilo para o observador
de uma maneira única que não pode ser substituída por "O bouquet caiu na água".Diz-se (não é verdade): Uma imagem vale mais que mil palavras. Mas a imagem do bouquet pode ser substituída por apenas 5 palavras! Se fosse para armazenar em um meio qualquer, seria mais econômico armazenar as 5 palavras.
Mas a imagem poderia valer mais que as 5 palavras
se nela houvesse algo que não pudesse ser transmitido por palavras, um clima, uma forma, uma abordagem relacionando as cores, enfim,
informações essencialmente visuais.Essas informações visuais são agregadas por um elenco de recursos compositivos, fotométricos, enfim, por uma
TRANSFORMAÇÃO que o fotógrafo promove na coisa fotografada. Então a foto do bouquet poderia ser muito dramática ou engraçada ou paradoxal, mas seria preciso que o conjuto água-bouquet fosse transformado pela sua narrativa de forma que nós o víssemos para além do mero registro do fato. Que nós víssemos além do fato.
Essa narrativa fotográfica, dada pelo enquadramento, pela composição, pela fotometria, pelo foco/desfoque, pelos elementos que estarão contidos na foto, ela
poetiza a narrativa. Poetizar aqui está significando
ESTETIZAR. Ela torna a narrativa estética, o que não é o caso.
Observe esta frase do João Guimarães Rosa (A Terceira margem do rio):
"Isto não havia, acontecia."Agora observe que se poderia dizer a mesma coisa com uma frase mais ou menos assim:
"Estava acontecendo algo muito improvável."Notou a diferença? Na primeira frase há, além da segunda, infinitos desdobramentos que podem ser saboreados pelo leitor.
Na segunda há meramente uma informação.São duas narrativas,
a primeira é estética, a segunda "um registro", ou seja, meramente informa. A primeira informa também, mas informa de uma maneira que toma o leitor e o obriga a uma ginástica mental, que o prende, que o põe a pensar. A segunda apenas o informa.
As três fotografias, com a diferença dos temas, têm essa característica.
Falta a elas Linguagem Fotográfica, isto é,
uma aplicação consciente dos recurosos fotográficos com objetivo de criar um fato estético (uma fotografia). O interesse da fotografia foi confiado ao acontecimento. O fotógrafo agiu como um registrador automático que entrega ao acontecimento a construção do sentido de sua fotografia.
Observe o título que você deu à fotografia do seu filho... Como é que o observador patilharia desses sentimentos? Nada na foto indica isso!
Este título mostra outra tendência: é
forçar uma significação para as fotos. As fotos não devem precisar de títulos, sequer. É da imagem, apenas da imagem, das sombras, do enquadramento, do tamanho das coisas, desse conjunto de arranjos visuais que o observador obterá a vantagem. Fotografar é arrumar através do visor essas coisas para sensibilizar o observador.
2- Cores e luz. Não sei se foi o momento q foi muito agradável pra mim, mas eu gosto dessa.
3- Casamento e pequeno incidente na piscina.
Obrigado Ivan.