O Ivan sempre levantando questões interessantíssimas e estimulando os colegas a fazerem o mesmo.
Estou acompanhando as discussões aqui e no blog.
Interessante, Ivan, você ter mencionado que as coisas mudam, o mundo muda, não pra melhor, nem pra pior. É natural nossa tendência de acreditar num "empobrecimento", tendemos a recriar um passado sempre mais glamouroso do que o presente, afinal o passado já passou, o presente está acontecendo.
É possível que nessa nova configuração não teremos mais um Cartier-Bresson nem tantos outros do mesmo segmento, mas teremos outros tão bons quanto, com novas propostas, novos parâmetros. Além disso, para tornar-se um "grande fotógrafo", em alusão a um tópico passado, é preciso certa originalidade, ninguém se tornará grande reproduzindo modelos do passado, embora possa fazer belos registros na linha de grandes fotógrafos. Originalidade, não no sentido de apresentar algo inovador, nunca antes visto, que partiu de ponto nenhum, mas saber recriar a tradição da fotografia a partir do contexto em que vive, das mudanças da nossa sociedade, saber retratá-las de forma pessoal.
Nosso contexto coloca um problema para a street photography bem colocado no artigo, mas esse problema, ao meu ver, é apenas uma pedra no caminho, não uma muralha inteira.
Eu gosto de fotografar na rua, mas não sou tão desprendida a ponto de colocar a câmera na cara do sujeito sem pensar no quão agressivo pode ser esse ato. Colocar-se no lugar no outro deveria ser princípio para toda interação humana, não só no que se refere à fotografia, só assim entenderíamos porque uma pessoa ou um grupo deseja preservar sua privacidade ou identidade enquanto outro faz o contrário.
Com fotografia de rua, tive uma experiência exatamente oposta ao do colega do blog Filipe. Mesmo não sabendo manusear direito as funções da câmera, fotografei muito em Paris, de tudo um pouco. Monumento, pessoas etc. Em nenhum momento sequer alguém sentiu-se incomodado ou veio perguntar-me qual o propósito da fotografia. Mas, é claro, nunca usei a câmera como alguém que usa uma arma. Numa seleção dessas fotos que postei há muito tempo aqui no fórum, notei também que a maioria das pessoas não são identificáveis, quase todas estão de costas, talvez por isso não tenha sido confrontada em momento algum.
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=25889.msg245689#msg245689Além disso, acredito que isso se deva, de um lado, pela tradição francesa da street photography, não que a população em geral tenha consciência disso, e, de outro, pela relação com "o estrangeiro" que, embora seja um dos maiores medos dos franceses, um medo milenar, contra uma multidão de japoneses, europeus em geral, americanos em menor escala, latinos, árabes, indianos etc., todos com uma câmera na mão, não há como lutar.
Em contrapartida, nesse ano que passei fora, fiz várias viagens, por vários países, e no que eu tive mais problemas para fotografar, a ponto de desistir, foi em Marrakech. (Assinalo que esse é um relato pessoal, a Célia esteve lá e passou por outra experiência). Era empunhar a câmera e sempre vinha um ou para pedir dinheiro pela foto (ainda que não fosse dele nem de pessoa alguma), ou para me colocar uma cobra no pescoço, ou para vender alguma coisa, ou para se oferecer para ser meu guia. Comecei a ficar tão irritada com o assédio e com a falta de concentração que eu precisava para fotografar que desisti e resolvi interagir com o pessoal, conversar mais, curtir o lugar a registrar fotos. Acredito que se tivesse feito isso no primeiro, segundo dia e, só depois, partido para as fotografias, a relação com o povo seria outra, pois como me disse o dono do lugar onde me hospedei, nos primeiros dias eles te vêem e registram sua presença, incomodam mesmo disse ele, daí em diante, as relações vão ficando mais próximas e menos intrusivas. Na verdade mesmo, o intruso era eu. É sempre bom ter ciência disso antes de reclamar do população local que não colabora. kkk Depois do espanto inicial, chegamos até a falar de copa do mundo, Ronaldinho, copa América, foi nessa época que fui pra lá, tudo de um jeito muito doido, como n'Um Filme Falado, pois nem eu nem eles sabiam com muita desenvoltura língua nenhuma.
Bem, é isso. Vou ficando por aqui e anseio ler a contribuição do Ricardo também.
Abraços a todos.