Ninguém aqui nessa sala defende o uso da fotografia com filme comercialmente.
Elmo, eu defendo a fotografia analógica comercialmente!
Agora sério, sem querer desqualificar ninguém, mas uma vez eu vi uma entrevista do Sebastião Salgado (nem gosto dele, mas enfim...) e nego perguntou isso de digital pra ele, porque tem uma história que ele agora faz digital, por preguiça de filme em aeroporto e tal, e o printer dele pega o arquivo digital e queima um negativo numa máquina, pra ampliar a partir do negativo, enfim, um trolóló bem Sebastião Salgado.
Mas aí na entrevista ele falava que esse negócio de democratização da fotografia muda exclusivamente a base da pirâmide, mas pra quem tá no topo, não muda absolutamente nada.
Pra extender o raciocínio, vejam aí dois artistas que só fotografam 8x10 e usufruem de todas as possibilidades do digital.
Esse é o Gregory Crewdson. Ele faz várias exposições ao longo do dia, como se fosse um HDR analógico, em 8x10, e depois combina digitalmente. Nessas paisagens dele ele manda cortar poste, derrubar casa, plantar árvore, coloca os carros, as pessoas... Coloca lá no lugar mesmo, ao vivo, não no photoshop. Se ele quer uma paisagem com uma determinada casa pegando fogo, ele compra a casa e quiema. São paisagens, fotografadas como paisagens, só que ele monta as imagens a partir das tradições da pintura, tipo, ele bota uma cena significativa em cada janela, a composição... e os tamanhos dos prints são enormes, inatingíveis através de processos analógicos:
http://images.google.com/images?client=safari&rls=en&q=gregory+crewdson&oe=UTF-8&um=1&ie=UTF-8&ei=whC7S4P1MZC0uAef4sC5CA&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=1&ved=0CA8QsAQwAAEsse o é o Andreas Gursky. Outro contemporâneo que faz 8x10 e dá a saída digitalmente, às vezes editando, às vezes não. Ele é famoso por aquela foto do supermercado, "99 cents", que foi vendida por mais de 3 milhões de dólares:
http://images.google.com/images?client=safari&rls=en&q=andreas+gursky&oe=UTF-8&um=1&ie=UTF-8&ei=phC7S6W3I4uluAfZkcnDCA&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=1&ved=0CBYQsAQwAAO Vick Muniz tb só faz 8x10 e revela lá no Kronocroma, quer dizer, nem é um negócio de outro mundo, é alí do lado do Hotel Glória e totalmente acessível a mortais como nós.
"Ah, mas aí é arte!" Pô, eu não imagino nada mais comercial do que arte contemporânea.
Ou seja, esse negócio de fotografar digital não é nada senão pobreza e preguiça. Todas as possibilidades da fotografia digital já estavam aí antes das câmeras digitais, a publicidade sempre fotografou cromo e digitalizou pra dar saída. Eu tive um professor de photoshop que tinha sido manipulador de imagem na época em que só existia monitor preto e branco! O cara olhava os valores em CMYK passando o mouse na foto e sabia que cor era. Até hj, vc fala um valor de CMYK pra ele e ele te fala a cor que é, certinho!
Enfim, anteparos pequenos são sempre mais difíceis de resolver oticamente. E sensores digitais não me parecem, sob nenhum aspecto, melhores do que película. A unidade mínima da película é o grão, que por ser anamórfico (Tá certo isso? Anamórfico? Enfim, não é um quadrado) pode ser muito mais ampliado que um pixel, ainda que esse grão seja composto por vários pixels por ter sido digitalizado. A latitude e principalmente, a retenção de detalhes nos tons baixos é NITIDAMENTE SUPERIOR em filme, principalmente do médio formato pra cima, tem que ser cego pra não perceber.
Quanto à praticidade, isso é falácia. Praticidade é vc fotografar os seus rolos, mandar pro lab, e em 24 hrs vc ter os negativos revelados, folhinha de contato pra escolher e os arquivos digitalizados no CD pra dar só uma porradinha, e não um tratamento de horas, (porque digital precisa de horas pra ficar bom o suficiente pro mercado editorial) e mandar pro print. Tirando publicidade nenhuma outra área tem essa sangria desatada toda de não ter 24 hrs pra revelar. E eu já trabalhei em publicidade, e tb não é correria todo dia, as coisas tem prazo, às vezes aperta, mas o normal é ser normal.
Então eu não entendo essa superioridade do digital. É superioridade pra baixo? Porque tudo é pior. Digital só é "superior" mesmo, enquanto possibilidade fotográfica, para fotojornalismo, por causa da facilidade de transmissão das imagens e por causa dos ISOS um milhão e duzentos. E mesmo assim essa superioridade só se traduz no hard news, onde pouco importa a qualidade.
Eu acho que esse pessoal que fica defendendo digital gosta mesmo é de ficar vendo na telinha.
Quer ver a pergunta matadora: Aos que estão defendendo digital, vcs têm fotômetro?
Duvido! Deve ser tudo viciado em ficar vendo na telinha...
Inclusive pra mim, em termos práticos, uma das grandes vantagens do filme é eliminar a "flanelagem" na fotografia de estúdio. O diretor de arte/produtor/editor/cliente/whatever é OBRIGADO a confiar em vc e ficar quieto, ao invés de ficar em cima do seu ombro pedindo pra ver e dando pitaco.
Branco Melo, vc está olhando só pros lados e pra baixo. Olha pra cima.
O filme não vai acabar, nem o caviar, nem o champagne, nem as mulheres realmente bonitas. O fato dessas coisas não serem pra todo mundo não significa que elas vão acabar, muito pelo contrário. O que o preço alto dessas coisas revela é exatamente o quanto a sociedade contemporânea valoriza esses bens. Quem não pode comprar é demanda reprimida, mas continua sendo demanda.
E às vezes pro produtor mais vale ficar num preço onde a demanda capaz é menor em número de indivíduos mas as margens sejam mais compensadoras do que um ponto da curva onde atenda toda a demanda disponível por um preço baixo. Nem sempre é melhor vender mais, existe um ponto ótimo na curva (às vezes mais de um) e quem cálcula isso na Fuji, na Kodak, na Ilford, deve ser um economista, não deve ser um idiota qualquer.
O próprio mercado de fotografia enquanto serviço é um exemplo claro desse tipo de processo: Quem cobra caro e trabalha pouco costuma ganhar muito, mas muito mais mesmo, do quem cobra barato e trabalha todo dia.
E empresas servem pra dar dinheiro, atender as "necessidades" do consumidor é um meio de ganhar dinheiro, apenas. Empresa pra fazer consumidor feliz não é empresa, é igreja. Se for dar mais dinheiro atender menos gente cobrando mais caro, é isso que a empresa DEVE fazer, pelo bem dos seus funcionários, da sociedade e da própria empresa. Pros que ficaram de fora da brincadeira sempre existirão as igrejas.
E eu acho que o filme "acabou", assim pro povão, por causa disso. Quantas fotos o povo revelava e imprimia antigamente? Por mais que pareca muito com o que se imprime hj, financeiramente é nada se comparado a quantidade de gadgets eletrônicos vendidos sob a alcunha de fotografia digital, gadgets esses que tem que ser trocados de dois em dois anos, e são indiscutivelmente mais presentes na vida das pessoas do que as máquinas fotograficas eram, por causa de sua portabilidade e facilidade de uso, a despeito da qualidade.
O que dá mais dinheiro? Amadores com uma máquina que vai durar o resto da vida mas que só vão queimar um filme por mês, ou apostar na obsolescência programada e ir tirando o dinheiro desses amadores de dois em dois anos de batelada, e ainda fazer o bobão achar que está economizando?
Mas é como o Tião falou: muda só a base, exclusivamente a base.
EDIT: A única coisa que eu discordo foi o que o
afshalders disse com relação a "durabilidade" do filme ser maior que o meio digital. Fazer backup em CD ou DVD em casa seria o mesmo que receber os negativos no envelope do lab e jogar numa caixa de sapatos no alto do armário, aqui a dez anos vai estar tudo ferrado tb. Vc pode alugar um HD na Rússia, um na China, outro nos Estados Unidos, e outro em Madureira, tudo pela internet, e vc só perde as suas fotos se acabar o mundo mesmo. Já um armário de negativos, por mais que seja um super ultra mega armário/arquivo climatizado, se a sua casa pegar fogo já era.
O que não impede de ter todo esse armário de negativo digitalizado e nos respectivos HDs da China à Madureira tb, além dos negativos no armário.