A mídia, querendo ou não, influencia todo mundo, não só o chamado "povo". Isso não quer dizer que todo mundo faça e pense como quer a mídia. Entretanto, ela é sempre uma das referências sobre as quais se forma o pensamento das pessoas, seja por contraste, por assimilação, etc. Se o que pensamos nunca é fruto apenas de nós mesmos, mas da relação que estabelecemos com outras pessoas, fatos e idéias, entre os quais está a mídia.
Sobre a política, discordo de você, Guss. Acho, por exemplo, que um analfabeto não pode ocupar qualquer cargo político. Mas isso se deve a um impedimento prático: um analfabeto não consegue sequer ler o que vai assinar. Fora isso, não vejo como limitarmos os políticos a determinados níveis de formação. Uma pessoa que, por exemplo, não completou o segundo grau, mas que passou a vida inteira dentro de um sindicato, participando ativamente da vida político-partidária, tem todas as condições para se candidatar a qualquer cargo. Mas isso não determina que será um bom ou mal administrador. A política é muito mais "jogo político" do que qualquer outra coisa, como o falecido antropólogo/sociólogo/militante Pierre Bourdieu já mostrou em alguns de seus textos. Voltando ao caso do Lula, é justamente por isso que ele sabia do que estava acontecendo: para o bem ou para o mal, ele é um cara que conhece política, não há como negar isso.
Quanto à limitação do voto, tenho igualmente apenas uma ressalva: se uma pessoa com menos de 16 anos não é considerada responsável por seus atos, é um absurdo que seja considerada apta para votar. Fora isso, todos tem o direito - embora não deveriam ter o dever - de votar. Não é porque alguém vota com uma lógica diferente da minha que ela está errada e eu, certo. O problema é qie se divulga a imagem do "povo" como sendo um completo ignorante, totalmente manipulável. Isso não é verdade. Inclusive, existem diversos estudos de antropologia que mostrar que há lógica nas decisões do "povo". Trata-se, antes, de uma lógica diferente, mas de forma alguma inexistente. Inclusive, melhor do que dizer que existe lógica, é falar em lógicas, pois o "povo" não é homogêneo.
A noção antiga de aristocracia é etnocêntrica. Quem diz quem são os melhores? Casualmente, essa definição é feita pelos beneficiados, pelos próprios "melhores"...
A noção de "sábio" é sempre relativa, e por isso mesmo não pode ser parâmetro.
Sobre o coronelismo, trata-se muito mais de um fruto da incompetência dos políticos do que do povo. É só pensar: se eu sou um favelado, que nunca ganhei nada de governo algum, não é tão absurdo que eu vote em quem me pagar um churrasco. O que acontece é isso. Mas o voto nesse caso não vem acompanhado da ilusão de que "tudo vai melhorar". O povo conhece e joga o jogo. Coloca a camisa do candidato, faz o seu rango e, se quiser, vota nele. Mas sabe que sua vida vai continuar na mesma e sabe que o político está só jogando. Mas, pelo menos, come picanha a cada dois anos. Quem é que está errado?