Marcelo não é nada estranho para mim, muito pelo contrário, não se esqueça que sou formado em administração com 2 duas pós exatamente na área de projetos e estratégia, o que mais tenho contato hoje é com esta área de gestão. Não no chão de fábrica e sim onde as decisões de fato acontecem. Uma empresa comprar da outra não só é normal, como é racional em diversos aspéctos. Você comprar componentes de quem faz melhor, ou mais barato, melhora seu desempenho como organização e deta forma faz todo o sentido.
A Sony não "acaba" com a Nikon e nem vai acabar no curto prazo porque não faz sentido estratégico no momento. Simplesmente porque ela aplicar esforços neste sentido provocaria perdas significativas para a Nikon mas não necessariamente ganhos para ela e pela teoria dos jogos estratégicos quando se aplica o equilíbrio de nash a melhor decisão é sempre aquela que corresponde à melhor decisão simultânea para ambos os jogadores (esta visão canibal do Adam Smith já está ultrapassada a uns 40 anos, a teoria dos jogos já apontou caminhos decisórios muito mais inteligentes do que simplesmente sempre fazer sempre o que é melhor para você).
Pense o seguinte jogo (vou montar sem valores porque não tenho acesso aos dados exatos, mas pense em 1 para ganho 0 para empata e -1 para perde).
Pense assim, se a Sony deixa de vender para a Nikon ela vai ganhar praticamente o mesmo com o ganho de mercado do que ela ganha vendendo para a Nikon, deixando indiferente para ela vender ou não em termos de holding (porque em termos de unidade o jogo varia). No caso a Nikon para ela comprar da Sony gera indiferença no momento enquanto gera perda significativa no caso contrário. Neste caso para a Sony tanto faz, mas para a Nikon não. Quando você fecha o equilíbrio deste problema simples você vai ver que a melhor decisão estratégica é a Sony vende para eles e eles compram da Sony, pois isso gera indiferença para a Sony e ganho para a Nikon. É simples assim.
| Nikon |
Sony | Compra Sony | Compra Terceiros |
Vende | 0,0 | 0,-1 |
Não vende | - | 0,-1 |
É claro que este é um jogo simplista, existem outras formas de a Sony maximizar ganhos sobre a Nikon com soluções que caem sobre a compra de componentes da Nikon para a Sony.
Mas essencialmente isso não muda o poder de barganha, a sutiliza do negócio está exatamente ai. Se a Nikon pressiona qualquer coisa ela muda o equilíbrio do jogo de forma muito contrária a ela, então o que acontece neste sentido é que a Sony dita a regra do jogo, porque o equilíbrio é favorável a ela, uma vez que gera indiferença e possíveis pressões do outro player podem provocar um desequilíbrio muito mais negativo para um do que para outro.
Isso é jogo estratégico simples, não tem muito mistério.
Quanto ao jogo da D3 eu já falei mais de uma vez. A Sony não joga da mesma forma. O desempenho deste sensor de 12MP da D3 não é maior como vocês estão pregando, ele ganha em certos atributos e perde em outros. No caso ele ganha em atributos que não são parte da estratégia da Sony e perde exatamente no carro chefe da estratégia dela. O fato dela não usar este sensor se chama coerência estratégica. E digo mais a Nikon só não usa o de 24MP em todas as câmeras porque a Sony tornou inviável financeiramente devido ao custo, porque se fosse viável estas linhas de 12MP já estariam sendo substituídas pela de 24MP, porque o apelo é muito maior.
Só lembrando que a Sony não possui câmera para fotojornalismo. Ela ainda não entrou na disputa nesta categoria (e acredito que isso deva demorar mais um ou dois anos para acontecer. Neste caso FPS não é a questão em jogo. Sem contar que o principal adversário que a Sony tinha em mente é a Canon, que é a maior ameaça neste mercado, em todos os sentidos, porque é tão grande quanto a Sony e concorre pesado no mercado de compactas. A preocupação da Sony imagem hoje é muito mais com a Canon do que com qualquer outra empresa.
A Nikon é uma das que mais vende DSLR, mas é um player pequeno no mercado de câmeras, exatamente por conta das compactas. A Nikon vende tanta DSLR quanto a Canon e quase não vende compactas. Agora por mais que você ache marcelo eu tenho quase 10 anos de estudo na área e a maioria das minhas pesquisas são exatamente na área de DSLR. É mais do que óbvio para qualquer um com o mínimo de formação na área que o gargalo está do lado da Nikon e não da Sony, tanto que quando a Sony entrou neste mercado a primeira coisa que foi discutida era o futuro dos demais fabricantes. Todo mundo buscou alternativas, menos a Nikon. Na época a Nikon era competitiva em preço, hoje ela está absurdamente mais cara e isso tem custado mercado a ela, em 2008 ela começou a perder o espaço que tinha ganhado em relação à Canon. O jogo está difícil e a posição da Nikon é difícil em termos de fornecedor do principal componente, porque por mais que ela tente desenvolver alguma coisa dela neste momento isso demora, é como aconteceu com a Pentax, a Pentax encolheu a 1/4 do tamanho.
Também tem outro erro na sua avaliação. Hoje todo mundo sabe que a Sony produz SLR, qualquer loja que você vá tem câmeras Sony em qualquer lugar do mundo. Aqui no Brasil a coisa não está muito diferente. Por incrível que pareça a Nikon é uma referência entre os mais velhos, mas entre os mais novos, que estão iniciando hoje a predominância de interesse é por Sony e principalmente Canon. Tudo fruto da estratégia das compactas, que a Nikon ficou de fora. Talves o único mercado onde este fenômeno não ocorra de forma tão intensa é o mercado Japonês, onde a tradição de fotografia é algo relevante, mas mesmo assim você já encontra câmeras em franco crescimento. Se você pensar que a Sony só joga neste mercado a pouco menos de 4 anos, ter hoje quase 15% do mercado mundial de DSLR é bastante significativo, na verdade é o crescimento mais expressivo entre todas as empresas. E veja que não é um crescimento simples de fazer, porque você precisa romper base instalada do sistema.
Eu moro no Brasil, mas estudo dinâmica de mercado global. O japão é apenas uma pequena parcela do mercado global, muito atípica por sinal, em decorrência de questões relacionadas à idade da população e às tradições culturais do pais. A principal referência de competitividade é os EUA, porque é lá que os produtos ganham escala e a maior parte do mundo tem padrões de consumo até certo ponto compatíveis com a flexibilidade americana.
Não entendi sua questão sobre as super-teles. Com relação ao preço a Sony é sustentadora, por isso possui preços significativamente mais elevados. Nas DSLR é hoje a segunda mais cara, só perde para a Nikon, que está com preços absurdamente acima da média, exatamente em decorrência da mistura entre estratégia sustentadora e falta de poder de barganha. Só para deixar claro eu acho os produtos da Nikon muito bons, minha discussão aqui está sendo mais em termos estratégicos, uma análise das organizações neste sentido.
Quanto à Panasonic eu concordo com os Japoneses, em geral eu gosto mais dos produtos Panasonic do que dos produtos Sony, tanto que minha TV é Panasonic, meu DVD é Panasonic, meu vídeo K7 é Panasonic, meu micro-ondas é Panasonic, minha compacta é Panasonic e assim por diante.