Autor Tópico: O fotojornalismo subversivo de Ivars Gravlejs  (Lida 14953 vezes)

LuizNdo

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Resposta #75 Online: 28 de Janeiro de 2010, 22:08:07
daí vem a questão: se ele desenvolveu, seja como for - no caso, diz-se que foi em segredo - um projeto de arte contemporânea, entende-se que ele criou. já, se ele o fez ("sem desenvolver") como se estivesse trabalhando normalmente para a empresa e num determinado momento se deu conta de que poderia transformar o que estava fazendo num projeto e, com isso em arte, muda alguma coisa?

É como eu sempre digo: Retire o discurso e o que sobra? Há obra?

Não me importa o que ele alegue. O que me importa é a obra. Se ela não fala por si só, pra mim não é arte.

Se ele tinha essa intenção de mostrar o artifical, porque ele não inseriu "paradoxos" nas imagens dele desde o início para, no final, mostrar ao público? Isso pra mim seria um toque artístico e inteligente. Os "easter eggs" seriam incontestáveis em mostrar que ele já tinha essa intenção realmente em vista.

No entanto me parece que o cara simplesmente atinou para o conjunto de Photoshopadas dele e decidiu montar uma exposição. Daí escreveu algo pomposo para dar substância pseudo-intelectual ao conjunto de imagens.

E o povo engoliu a goma.
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RFP

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Resposta #76 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 08:04:11
Li um trecho do Flusser que se aplica muito bem ao trabalho apresentado. É uma pena que não posso colocar o livro todo aqui, que eu considero leitura obrigatória para quem quer entender um pouco melhor a sociedade baseada em imagens e informação na qual vivemos hoje.

"O novo engajamento político, entretanto, não se dirige contra as imagens. Ele procura inverter a função das imagens, mas admite que elas continuarão a formar o centro da sociedade por todo o futuro previsível. Ele procura fazer com que as imagens sirvam a diálogos mais que a discursos, mas não pretende aboli-las. O novo engajamento político nasceu no interior da revolução técnica atual, ele não se opõe a ela (como os fundadores das religiões não se opuseram à revolução neolítica, como os bolchevistas não se opuseram à revolução industrial no interior da qual nasceram). É que os novos revolucionários são "imaginadores", eles produzem e manipulam imagens, eles procuram utilizar sua nova imaginação em função da reformulação da sociedade. Os novos revolucionários são fotógrafos, filmadores, gente do vídeo, gente de software, e técnicos, programadores, críticos, teóricos e outros que colaboram com os produtores de imagens. Toda esta gente procura injetar valores, "politizar" as imagens, a fim de criar sociedade digna de homens" (Flusser, 1985/2008, p.94).

Nós, que fazemos fotografias, de fato dizemos algo ou apenas procuramos produzir um pequeno espetáculo, uma pequena diversão? Será que não estamos apenas alimentando essa torrente infinita de imagens sem significado, vistas e esquecidas no momento seguinte, apenas para dar lugar a outras imagens, na ilusão de estarmos de fato produzindo algo?

Referência:
Flusser, V. (2008). O universo das imagens técnicas: Elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume.


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Resposta #77 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 11:01:57
Desculpe, mas continuo não comprando o peixe dele. Não importa quantas mil justificativas forem mostradas. Ele, sendo um JORNALISTA, deve relatar FATOS, e não inserir conteúdo falso nas imagens. Se a NOTICIA foi distorcida, ele é anti-ético. Imagina se ao relatar uma enchente no Brasil fossem usadas imagens de uma mega-enchente em Bangladesh ? Ou por uma imagem de um massacre étnico na África em uma reportagem sobre uma ação policial no Rio de Janeiro.

Fora que o trabalho dele não tem absolutamente nenhuma qualidade artística. Esse papo todo de querer justificar o cara para mim é besteirol total. Mas para outros, não será. Claro que ele terá seus defensores e críticos.

Ah! Só uma coisa, manipular uma imagem não significa necessariamente distorcer/adulterar o fato. Pegue a imagem do atentado em Madrid. Alterar a imagem pixelizando partes que sejam chocantes de mais é válido. Converter a imagem para preto e branco e colocar um tom , por exemplo, vermelho em certas partes, é válido. São manipulações, não mudam o FATO original, apenas dão ênfase. Mas pegar uma cena de tráfego normal em uma auto-estrada e inserir mais carros para simular um engarrafamento é muito mais que manipulação, é distorção e falsificação. Fato real = Não havia engarrafamento / Fato falso = havia engarrafamento. Simples. E por aí vai. O que o Fussler disse vai por aí, e não que alguém pode sair manipulando ao léu qualquer imagem. Fala sério ! Politizar imagens não tem nada a ver com falsificar.

Pelo jeito o amigo RFP vai defende-lo até a morte e eu o oposto... Hahaha ! Mas isso que é o bom dos fóruns.

MAS EU NÃO COMPRO O PEIXE DELE !  :)



RFP

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Resposta #78 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 11:24:19
Já desisti de argumentar se é arte ou não, porque isso acaba desviando o foco real do que foi feito. Também importam pouco as motivações dele. O que eu acho o grande problema da maioria das análises feitas aqui, inclusive a sua, Antonio, é que ela pára no julgamento moral. Fica-se apenas discutindo se é certo ou errado, ético ou antiético, bonito ou feio... Poucas pessoas deram um passo atrás (ou adiante) e olharam para o trabalho sem se preocupar com esse viés.

Não estou defendendo o cara, eu apenas estou sugerindo que se discuta de fato o trabalho em si e não apenas se julgue moralmente a atitude dele, pois acredito que se ficarmos nisso a conversa acaba sendo superficial.
« Última modificação: 04 de Fevereiro de 2010, 11:24:47 por RFP »


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Resposta #79 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 11:31:46
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Os novos revolucionários são fotógrafos, filmadores, gente do vídeo, gente de software, e técnicos, programadores, críticos, teóricos e outros que colaboram com os produtores de imagens. Toda esta gente procura injetar valores, "politizar" as imagens, a fim de criar sociedade digna de homens" (Flusser, 1985/2008, p.94).

A questão está bem explícita no contexto, ao que parece. Fala-se em revolucionários, e não artistas (ainda mais artista plástico), o que mantém o texto num patamar muito aceitável. Quem quiser ser um revolucionário, ótimo, que se mantenha nesta posição. Cada um com seu cada um, senão vira calvinball.

Citar
Nós, que fazemos fotografias, de fato dizemos algo ou apenas procuramos produzir um pequeno espetáculo, uma pequena diversão? Será que não estamos apenas alimentando essa torrente infinita de imagens sem significado, vistas e esquecidas no momento seguinte, apenas para dar lugar a outras imagens, na ilusão de estarmos de fato produzindo algo?

Não há mal algum em fazer imagens sem pretensão puramente comunicativa. Não há mal algum em fazer uma imagem puramente estética. Como disse, cada um com seu cada um. Há espaço para todos e a existência de um não pressupõe a extinção do outro. O problema é tentar universalizar a questão da arte para "a verdadeira arte é isto ou aquilo".

No máximo, pelo menos por este trecho (não li o livro), Flusser colocou o Ivars tão somente como revolucionário. Eu o considero um revolucionário ruim, que de mim só ganharia uma mamadeira e uma chupeta.


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Resposta #80 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 12:08:56
Rafael, já deixei de lado a questão da arte. O Flusser fala até bem pouco disso, pois não importa muito se a imagem é arte ou não, importa se ela é uma imagem que simplesmente alimenta esse fluxo contínuo com o qual temos contato diariamente ou se, de alguma forma, ela aponta para o funcionamento desse sistema. No meu entendimento o trabalho se encaixa na segunda categoria.

Novamente, acho que você continua analisando a atitude dele. Não importa o que ele quer ou qual é a motivação que ele tem... O que vale discutir é se o trabalho é útil ou não, válido ou não, eficaz ou não (de preferência indo além de meros julgamentos morais).


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Resposta #81 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 12:23:39
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Novamente, acho que você continua analisando a atitude dele. Não importa o que ele quer ou qual é a motivação que ele tem... O que vale discutir é se o trabalho é útil ou não, válido ou não, eficaz ou não (de preferência indo além de meros julgamentos morais).

Pelo contrário, o que menos importa é o que ele quer ou a motivação dele. Me refiro àquilo que, em minha análise, está impregnado no trabalho dele: a atitude. É um trabalho extremnamente pessoal e que boa parte da análise semiótica está calcada em seu próprio discurso moral, que o torna quase como uma metalinguagem. Não sobra muito, a meu ver, para ser analisado e julgado eficaz, válido, muito menos útil.


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Resposta #82 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 12:27:35
Bem, eu não acho nem útil nem válido, só oportunista, do tipo se colar colou. Absolutamente vazio.


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Resposta #83 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 12:32:34
Poucas pessoas deram um passo atrás (ou adiante) e olharam para o trabalho sem se preocupar com esse viés.

E o que você está buscando então? Já cansei de falar que o trabalho dele, tirando-se o discurso (moralidade, ética, etc...), não é nada demais. Sequer mereceria uma exposição pretenciosamente artística.
Perde completamente a importância sem um discurso que o contextualize.

O que difere o trabalho dele do trabalho dos photoshopeiros da Playboy? Nada. Os dois tem como objetivo mostrar uma verdade maquiada.
O que há para discutir além disso?

Quer ver uma manipulação artística que merece aplauso pela técnica e criatividade? Visite o Worth1000



Simples assim.

O que vale discutir é se o trabalho é útil ou não, válido ou não, eficaz ou não (de preferência indo além de meros julgamentos morais).

Agora temos parâmetros!

É Útil?... Só para o jornal que usou as imagens.

É Válido?... Tanto quanto um BBB10. Sinceramente, ele revelou alguma novidade?

É Eficaz?... Em quê? Dizer que imagens são manipuladas? Uaaaau! :assobi:
« Última modificação: 04 de Fevereiro de 2010, 12:43:16 por LuizNdo »
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Resposta #84 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:07:59
Ok, ok, vocês venceram, não vou discutir mais.

Agora, Luiz, os trabalhos "artísticos" desse site que você indicou são de gosto pra lá de duvidoso... Aquilo é tão artístico quanto abertura de novela mexicana. Considerando isso, é até um elogio pro Gravlejs você não gostar do trabalho dele.


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Resposta #85 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:20:21
Rodrigo, você está sendo quixotesco em defender esse Gravlejs.
Ele é um competente manipulador digital, não podemos negar. Mas daí pra dizer que o cara é um artista baseado nessas imagens rotineiras que ele manipulou para o jornal é muito.

Se fosse um brasileiro fazendo isso, ninguém daria crédito pro trabalho dele.



Tem algo de artístico nisso? Prefiro o trabalho do Urbano Erbiste.

Convido vocês a conferirem a GENIALIDADE desse Ivars Gravlejs: http://www.ivarsgravlejs.com/

Vão lá e digam se na Galeria do MF não tem coisa melhor. Francamente.
« Última modificação: 04 de Fevereiro de 2010, 13:27:18 por LuizNdo »
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Resposta #86 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:36:55
É, para mim, abstraindo-se a questão moral e a credibilidade do autor ficou o discurso insosso.

Primeiro, porque não é nem de longe novidade, quanto mais subversiva. Desde sempre, qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que os fatos escritos, fotografados ou filmados são manipulados, seja pela interpretação ou pela interferência direta. E desde um bom tempo o descrédito da comunicação de massa e o neologísmo "photoshopar" já frequenta os bate-papos no chá da tarde da velhinha de Taubaté. Desde a farsa da entrevista do PCC no (argh!) Gugu, do escândalo da Escola de Base da edição da Hortência na Playboy, e por ai vai.

Segundo, também é insosso porque, embora seja uma prática pra lá de conhecida do público, não representa uma "rotina" banal e massivamente aplicada como faz parecer quem se perde em acrescentar botões numa camisa.

Quanto tirei minha foto para a primeira carteira de identidade, ou seja, nosso documento máximo, em 1978, minha cara parecia um Chokito, de tantas espinhas. Quando busquei a 3x4 no "foto" (ainda em preto e branco) meu rosto parecia o de um bebê. Fique feliz a beça, e a foto ficou no meu documento por uns 20 anos até tirar uma segunda via do RG. Estaria sendo subversivo ao revelar isso? Qual a diferença?

Abraços
« Última modificação: 04 de Fevereiro de 2010, 13:39:18 por Marcelo Favero »
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Kika Salem

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Resposta #87 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:41:52
Queria escrever um monte de coisa nesse tópico, mas ele já abriu tantos leques que fiquei com preguiça.
Mas três questões, ao menos, chamaram minha atenção:
1) A fotografia é sinônimo de realidade?
2) Existe imagem puramente alguma coisa? Intacta, invicta seja do ponto de vista comunicacional, estético, sociológico, histórico etc.?
3) Qual a utilidade da arte? Deleite, simplesmente?
4) A arte pode ser revolucionária, engajada, política etc.? Ainda assim, manter propriedades estéticas? Por que temos que dividir, compartimentar ao invés de congregar, dialogar?

Enfim, tais questões estão conectadas ao livro que um amigo me passou e que estou lendo no momento. Trata-se do livro "Introdução à análise da imagem", de Martine Joly. Quando sobrar um tempinho, vou organizar essa leitura e colocá-la em pauta.

Eu ainda não entendi porque a discussão caminha para um beco sem saída. Parece até que a gente é parente ou ganha dinheiro ao ficar do lado do Gravlejs ou se opor a ele.


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Resposta #88 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:54:56
Essa discussão já começou em um beco sem saida...

Bem, eu achei uma saída... Até mais para os que ficam. 0/


LuizNdo

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Resposta #89 Online: 04 de Fevereiro de 2010, 13:55:24
Kika, respondo sua 4a questão com uma palavra: Banksy

O que me causa questionamento tem sido:

1- Tudo é arte? E porque?
2- O que não é arte. E porque?
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