Acho que o conceito de ARTE foi tão questionado no século XX que perderam a noção do que realmente é arte.
Se a arte não denota um determinado nível de excelência técnica e/ou conceitual e/ou estética realmente não sei mais o que devo classificar como ARTE.
Já começo a considerar tal termo até pejorativo diante disso.
2 coisas:
1. o significado da palavra "arte", é habilidade pra fazer alguma coisa. Desde cortar cabelo até construir foguete. Eu já ouvi de engenheiro que engenharia é arte. A gente ouve por ai que futebol é arte, tem também a arte do crime e por ai vai...
Mas claro que não estamos nos referindo a esse significado genérico de arte. Estamos falando de artes plásticas, correto?
Mesmo assim... e pra desenvolver aqui eu vou ter que partir duma pergunta: "pra quê fazer arte hoje em dia?" ou fechando um pouco --> "pra quê pintar, se existe a fotografia? Pra quê esculpir se existe o 3D?"
Bem pinta-se/grava-se/esculpe-se/etc. pois isso é fazer humano, é cultura. Claro que existem outras razões além disso, mas em suma, é por isso. Alguém vai, pensa, e faz uma obra. Não vou me aprofundar nisso mas é um ponto de partida.
2. Essa coisa de arte ser julgada pela habilidade técnica de quem a produziu, ou, pelo seu "teor estético", ficou no passado. Isso não quer dizer que questões como a fatura ou a virtuose tenham tornado-se obsoletas, nada disso, mas apenas que a habilidade técnica deixou de ser o "medidor" de qualidade. Não precisamos ir muito longe pra descobrir que muita gente consegue pintar muito bem hoje em dia, alguém vai dizer "basta treinar". Ou mesmo modelar/esculpir.
Mas isso não basta.
Na verdade (quase) nunca bastou.
Pense que mesmo antes do século XX muita gente tinha uma habilidade enorme pra arte, mesmo não tendo passado pra história como artistas relevantes. Na época do Tiziano, não era apenas ele que sabia pintar "certo", mas só o Tiziano fez o trabalho do Tiziano, e, o grande teor da obra não está apenas na superfície - aparência. Idem pro trabalho dos impressionistas, ou mesmo do Pollock, ou ainda do Henrique Oliveira pra trazer mais pro presente.
Hoje em dia fazer algo "bonito", "aceitável", esteticamente impecável é digamos assim, fácil.
Eu posso pegar e fazer um projeto de uma escultura do Obama, de bronze numa base de mármore. Se eu sou um artista com grana, pow, pego uns assistentes e boto pra esculpir o cara, depois mando fazer o molde, mando fundir e pronto. Isso é o que o Koons e outros tantos fazem, mesmo gente sem tanta grana. E vc vai lá ver, não tem nada fora do lugar, não tem rebarba, não tem nenhuma imperfeição. Mas não é por isso que o trabalho é interessante ou não, bom ou ruim.
Por isso que eu falei que é complicado fazer juízo de valor. Nem sempre a gente sabe qual é a intenção do artista, e intenção é a maior pista pra poder entender uma obra contemporânea. Às vezes, essa intenção cresce muito e vira discurso.
=========================
Eu vou falar (dã, escrever) uma coisa... eu sou artista plástico contemporâneo, eu faço arte contemporânea, sou o único que eu conheço que transita por foruns, comunidades e etc., e nós (os artistas) temos em geral um grande receio com as pessoas, pois de fato parece que os artistas são sempre vistos como os picaretas, os oportunistas, os muito loucos e por ai vai. Vejo muita gente criticando a arte contemporânea por não conseguir entender os trabalhos - não vou dizer "entender a arte" pois ai é abraçar o mundo, entender os trabalhos já tá bom demais. Gente que diz que a arte morreu e por ai vai... pra mim, é tudo muito estranho.
Mas enfim... muitas vezes eu me pergunto o que é arte. Normal. Eu e meus amigos artistinhas sempre temos piadinhas, como p/ex ir numa galeria de arte e ficar pensando que o extintor é obra. Esses dias eu fui numa exposição e tinha uma laje com água refletindo o céu, meu, era muito bonito, eu fiquei pensando que era um trabalho, mas não era... bem, era né, era obra dos pedreiros. Mas não tava no catálogo...