Muita gente discorda que arte tenha que ser produto para fruição. Entre outros argumentos, dizem que arte é uma operação da linguagem arte (não podemos esquecer que a ciência tem uma "escrita" própria, por exemplo; a música também e ambos, como a arte, são linguagem).
Com base nestes argumentos, estes críticos e teóricos da arte dizem, entre outras coisas, que a arte do ocidente (a partir do renascimento) sempre esteve envolvida com uma questão ou problematização (hoje isto é feito em moldes muito coerentes com a linguagem científica) desta linguagem. O caso renascentista é bem evidente, por exemplo, no uso da perspectiva linear e do mundo que ela cria a partir da racionalização do espaço; o que nem sempre condiz com o espaço real ou natural. Portanto não é apenas o urinol (que acho bem bobo, mas isto é outra discussão) que opera esta linguagem arte.
Mas isso eu também concordo, Felipe. O problema não está na conceituação em si. Se você pegar o quadro Liberté guidant le peuple, de Delacroix, vai perceber um milhão de camadas de leitura, porém todas alinhavadas de forma plástica. A preocupação maior da arte plástica era a plástica (cor, linha, forma, perpectiva, etc). Uma arte plástica tem por definição própria ser, em sua essência, visual. Quando algo tem mais conceito que propriamente plástica, só podemos colocar em um dos 2 patamares: ou é uma obra plástica ruim ou não é uma obra plástica, é uma obra conceitual. Os problemas de alcance da arte conceitual deixaram de ser plásticos, deixaram de ser fruitivos, portanto pertencem a uma outra categoria de arte, mas continuam, arte e têm sua importância tanto quanto a plástica.
Outro problema é a nomenclatura "arte contemporânea", que é só uma questão de periodização. O termo que julgo mais correto é "arte conceitual", como alguns artistas mesmos fazem questão de deixar claro.
E, exatamente como você, acho o trabalho do Habacuc muito ruim.
Houve um comunicado oficial da galeria que advertia que o cachorro tinha sido alimentado, tratado e depois fugido. Acho muito conveniente tudo isso, sem mesmo mostrar uma prova sequer e depois da própria galeria alavancar os boatos de que ele tinha morrido. Mas mesmo assim, mesmo que tenha acontecido tudo isso, ainda acho o pior que um artista pode fazer. Nem mesmo a máquina de fazer cocô sintético do Wim Delvoye conseguiu ser tão insípido.
Quanto ao Ivars Gravlejs, não tenho nada contra ele, especificamente. Como subversivo,acho medíocre, como artista, acho nulo. Obvio que isso é absolutamente pessoal, embora com algum contexto.
Para finalizar, e já agradecendo este gancho que você me deixou na conversa, por diversos motivos a maioria dos teóricos da arte consideram arte contemporânea o que é feito a partir da pop art pra cá.
Por uma questão cronológica é considerado arte contemporânea tudo que é feito de 1970 pra cá (segundo alguns teóricos). É só para diferenciar da "idade moderna". Por isso mesmo não gosto de misturar os termos "arte contemporânea" e "arte conceitual", mas às vezes se faz necessário pra chegar num entendimento mais amplo.
E eu que agradeço a oportunidade da gente poder trocar figurinhas, independende de opiniões